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Gaza: cessar-fogo continua frágil e EUA aumentam pressão sobre Israel, com envio de representantes

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Pouco mais de uma semana depois de entrar em vigor, o cessar-fogo já está sob enorme pressão. Ele esteve por um fio no domingo (19), após ataques contra as tropas israelenses e a resposta de Israel na Faixa de Gaza. Diante de tudo isso, os Estados Unidos buscam manter a situação sob controle e despacharam os enviados Steve Witkoff, Jared Kushner e JD Vance para Israel. 

Vista aérea da zona portuária da Cidade de Gaza, em 20 de outubro de 2025.
Vista aérea da zona portuária da Cidade de Gaza, em 20 de outubro de 2025. AFP - -
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Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

O cessar-fogo está em vigor, mas é frágil. Houve ataques às tropas israelenses ainda estacionadas na Faixa de Gaza, causando a morte de dois soldados a partir do disparo de um míssil antitanque, segundo o Exército de Israel, que culpou diretamente o Hamas pela violação do acordo. 

Na sequência, Israel revidou com intensidade, atacando mais de cem alvos em Gaza. Os ataques israelenses causaram a morte de 45 pessoas, de acordo com os hospitais locais. 

A resposta israelense durou cerca de dez horas até que a cúpula política do país decidiu voltar a aplicar o cessar-fogo. 

Apesar disso, parlamentares israelenses consideraram a ação leve demais, como é o caso de Moshe Saada, do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. 

"Israel está viciado em administrar o conflito, em vez de decidir. Não estabelecemos uma linha vermelha clara sobre violações flagrantes. Retornamos à regra de contenção e administração. Pagaremos um alto preço por isso", disse em entrevista à Rádio 103FM. 

O Hamas apresentou duas versões para o ocorrido: a primeira delas por parte de Izzat al-Rishek, membro do alto escalão, que, citado pela Reuters, negou as alegações de violação do acordo e culpou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. 

Posteriormente, em comunicado, a ala militar do grupo extremista palestino não negou a ação, mas disse ter perdido o contato com os combatentes que ainda estão em Rafah, onde as tropas israelenses foram atacadas, e voltou a afirmar o compromisso com a manutenção do acordo. 

A bordo do avião presidencial Força Aérea 1, Donald Trump disse acreditar que o Hamas não esteve envolvido nos ataques, preferindo culpar "rebeldes internos" do grupo. 

Enviados dos EUA pressionam Israel

Segundo fontes de segurança citadas pela imprensa israelense, a visita ao país dos enviados Steve Witkoff e Jared Kushner tem como objetivo deixar claro que o acordo para encerrar a guerra "permanece válido e vinculativo a todas as partes". 

A intermediação dos Estados Unidos diante da resposta israelense aos ataques contra os soldados do país em Rafah foi fundamental, segundo o canal i24. Embora Israel tenha comunicado que iria responder, os EUA enviaram a mensagem que o país poderia seguir adiante, mas de forma proporcional. 

A RFI apurou que havia a possibilidade de ataques ainda mais extensos, mas Israel decidiu encerrar o ciclo no mesmo dia justamente em função da pressão por parte do governo norte-americano. 

Encontros com militares

Witkoff e Kushner se reuniram com generais israelenses, o que é incomum. Membros da ala política, mesmo do governo norte-americano, o principal aliado internacional israelense, costumam receber informações e debater cenários com lideranças políticas de Israel, não com militares. 

A informação foi confirmada pelo porta-voz do Exército de Israel, de acordo com a imprensa israelense. 

Os dois enviados dos EUA querem entender os preparativos de Israel para a segunda fase do acordo. Washington exerce pressão sobre as partes para conseguir chegar à segunda etapa do plano, quando assuntos ainda mais complexos deverão ser debatidos, como a entidade temporária de governo de Gaza, o chamado "Conselho da Paz", o desarmamento do Hamas e a Força Internacional de Estabilização, a força militar que irá substituir a presença do Exército de Israel no enclave palestino. 

A Netanyahu, Witkoff e Kushner deixaram uma mensagem clara sobre ações na Faixa de Gaza: autodefesa sim; ações que possam colocar em risco o cessar-fogo, não.

JD Vance, vice-presidente norte-americano, também irá se encontrar com o primeiro-ministro israelense. 

Segundo o Canal Público local, Vance deve ir também ao quartel-general que reúne soldados de Estados Unidos e Israel em Kiriat Gat, no sul do país, e que foi construído como parte do plano de Trump. 

Nessa base, militares dos dois países discutem uma série de questões, como o chamado "dia seguinte na Faixa de Gaza", mecanismos operacionais para ações em caso de violações do cessar-fogo e até formas de evitar eventuais confrontos com as forças estrangeiras que devem entrar em Gaza. 

O vice-presidente dos EUA também manifestou interesse em ir ao enclave palestino, mas a visita não está confirmada por questões de segurança.

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