Gaza: cessar-fogo continua frágil e EUA aumentam pressão sobre Israel, com envio de representantes
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Pouco mais de uma semana depois de entrar em vigor, o cessar-fogo já está sob enorme pressão. Ele esteve por um fio no domingo (19), após ataques contra as tropas israelenses e a resposta de Israel na Faixa de Gaza. Diante de tudo isso, os Estados Unidos buscam manter a situação sob controle e despacharam os enviados Steve Witkoff, Jared Kushner e JD Vance para Israel.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
O cessar-fogo está em vigor, mas é frágil. Houve ataques às tropas israelenses ainda estacionadas na Faixa de Gaza, causando a morte de dois soldados a partir do disparo de um míssil antitanque, segundo o Exército de Israel, que culpou diretamente o Hamas pela violação do acordo.
Na sequência, Israel revidou com intensidade, atacando mais de cem alvos em Gaza. Os ataques israelenses causaram a morte de 45 pessoas, de acordo com os hospitais locais.
A resposta israelense durou cerca de dez horas até que a cúpula política do país decidiu voltar a aplicar o cessar-fogo.
Apesar disso, parlamentares israelenses consideraram a ação leve demais, como é o caso de Moshe Saada, do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
"Israel está viciado em administrar o conflito, em vez de decidir. Não estabelecemos uma linha vermelha clara sobre violações flagrantes. Retornamos à regra de contenção e administração. Pagaremos um alto preço por isso", disse em entrevista à Rádio 103FM.
O Hamas apresentou duas versões para o ocorrido: a primeira delas por parte de Izzat al-Rishek, membro do alto escalão, que, citado pela Reuters, negou as alegações de violação do acordo e culpou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Posteriormente, em comunicado, a ala militar do grupo extremista palestino não negou a ação, mas disse ter perdido o contato com os combatentes que ainda estão em Rafah, onde as tropas israelenses foram atacadas, e voltou a afirmar o compromisso com a manutenção do acordo.
A bordo do avião presidencial Força Aérea 1, Donald Trump disse acreditar que o Hamas não esteve envolvido nos ataques, preferindo culpar "rebeldes internos" do grupo.
Enviados dos EUA pressionam Israel
Segundo fontes de segurança citadas pela imprensa israelense, a visita ao país dos enviados Steve Witkoff e Jared Kushner tem como objetivo deixar claro que o acordo para encerrar a guerra "permanece válido e vinculativo a todas as partes".
A intermediação dos Estados Unidos diante da resposta israelense aos ataques contra os soldados do país em Rafah foi fundamental, segundo o canal i24. Embora Israel tenha comunicado que iria responder, os EUA enviaram a mensagem que o país poderia seguir adiante, mas de forma proporcional.
A RFI apurou que havia a possibilidade de ataques ainda mais extensos, mas Israel decidiu encerrar o ciclo no mesmo dia justamente em função da pressão por parte do governo norte-americano.
Encontros com militares
Witkoff e Kushner se reuniram com generais israelenses, o que é incomum. Membros da ala política, mesmo do governo norte-americano, o principal aliado internacional israelense, costumam receber informações e debater cenários com lideranças políticas de Israel, não com militares.
A informação foi confirmada pelo porta-voz do Exército de Israel, de acordo com a imprensa israelense.
Os dois enviados dos EUA querem entender os preparativos de Israel para a segunda fase do acordo. Washington exerce pressão sobre as partes para conseguir chegar à segunda etapa do plano, quando assuntos ainda mais complexos deverão ser debatidos, como a entidade temporária de governo de Gaza, o chamado "Conselho da Paz", o desarmamento do Hamas e a Força Internacional de Estabilização, a força militar que irá substituir a presença do Exército de Israel no enclave palestino.
A Netanyahu, Witkoff e Kushner deixaram uma mensagem clara sobre ações na Faixa de Gaza: autodefesa sim; ações que possam colocar em risco o cessar-fogo, não.
JD Vance, vice-presidente norte-americano, também irá se encontrar com o primeiro-ministro israelense.
Segundo o Canal Público local, Vance deve ir também ao quartel-general que reúne soldados de Estados Unidos e Israel em Kiriat Gat, no sul do país, e que foi construído como parte do plano de Trump.
Nessa base, militares dos dois países discutem uma série de questões, como o chamado "dia seguinte na Faixa de Gaza", mecanismos operacionais para ações em caso de violações do cessar-fogo e até formas de evitar eventuais confrontos com as forças estrangeiras que devem entrar em Gaza.
O vice-presidente dos EUA também manifestou interesse em ir ao enclave palestino, mas a visita não está confirmada por questões de segurança.
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