Candidato favorito para prefeitura de Nova York quer imposto para ricos e transporte gratuito
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Nova York se prepara para decidir seu futuro político nesta terça-feira (4), em uma das eleições municipais mais observadas do país. Na disputa pela prefeitura, estão o deputado estadual democrata Zohran Mamdani, líder nas pesquisas e aposta da ala progressista do partido, o ativista republicano Curtis Sliwa, além do ex-governador Andrew Cuomo, que tenta voltar à cena política como candidato independente, após ter que deixar o cargo por acusações de abuso sexual. O vencedor sucederá o democrata Eric Adams, que desistiu da reeleição na metade da corrida

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Entre as quatro grandes disputas locais em andamento nos Estados Unidos, é a corrida em Nova York e, particularmente, a ascensão de Mamdani, que tem atraído maior atenção nacional e internacional. O motivo vai além da importância econômica da cidade: trata-se de um teste para o avanço da social-democracia em um dos maiores centros financeiros do mundo.
A pressão em torno da disputa ficou ainda mais evidente neste domingo (2), quando o presidente Donald Trump afirmou em entrevista ao canal CBS que, caso Mamdani vença, ele pode cortar fundos federais destinados à cidade. Trump chegou a sinalizar apoio a Cuomo, dizendo: “Se for entre um democrata ruim e um comunista, eu vou escolher o democrata ruim sempre.”
Apesar das ameaças, o entusiasmo do eleitorado segue alto. Quase 750 mil nova-iorquinos já votaram antecipadamente, segundo o New York Times, com destaque para a forte participação de jovens, um segmento fundamental para a coalizão progressista que impulsionou Mamdani.
É nesse contexto de tensão política, mobilização social e teste de ideias econômicas que conversamos com Diana Moreno, ativista e aliada histórica de Zohran Mamdani, que explica quem é o candidato, o que representa seu movimento e como Nova York pretende responder a um possível embate direto com o governo Trump.
Diana conta que conheceu o candidato em 2019, antes Mamdani ingressar na vida institucional, quando ambos atuavam na organização comunitária em bairros periféricos junto ao Democratic Socialists of America de Nova York. “Eu o conheci antes de ele ser político. Ele era meu companheiro de luta”, relembra. Em espanhol, ela destaca que Mamdani não emergiu da estrutura partidária, mas a partir da mobilização popular. “Eu o apoiei porque vi que o coração dele sempre está com quem tem menos”, completa.
Greve de fome
Um dos episódios que consolidaram sua credibilidade entre grupos de trabalhadores foi a greve de fome de mais de duas semanas que realizou ao lado de motoristas de táxi, para pressionar o governo municipal a criar um programa de perdão de dívidas. A ação resultou em uma reestruturação financeira relevante para centenas de profissionais.“Ele ficou mais de 15 dias em greve de fome para conseguir um acordo”, conta Diana.
Para ela, a vitória de Mamdani está ligada à percepção de que a desigualdade tornou-se central na dinâmica urbana de Nova York, não apenas como problema social, mas como impulsionador político.
Ela argumenta que o socialismo democrático defendido pelo novo prefeito se apresenta como resposta pragmática a desafios como aumento do custo de vida, a crise habitacional e o êxodo de cidadãos que não têm como arcar com os custos da permanência na cidade.
“O que estamos construindo é um movimento por um futuro digno para a classe trabalhadora deste país”, pontua.
Imposto
A principal bandeira de Mamdani é tornar Nova York mais acessível ao bolso de seus moradores. Ele defende que os nova-iorquinos que ganham mais de US$ 1 milhão anual paguem 2% a mais de imposto municipal. O candidato pretende também implementar transporte público gratuito em toda a cidade, creches universais e supermercados com produtos com preços controlados, que seriam financiados pela nova arrecadação.
O problema, porém, é que a cidade precisa da aprovação do governo estadual para elevar o imposto de renda local e a governadora Kathy Hochul, apesar de apoiar a candidatura de Mamdani, diz se opor firmemente à ideia.
Moreno também reconhece que a implementação desse programa enfrentará resistência significativa, tanto institucional quanto política. “Sabemos que vão colocar todo tipo de obstáculo no caminho dele. E nós temos que nos organizar para que ele consiga governar", diz.
Esse cenário de confronto pode se acentuar diante das declarações de Trump, que já sinalizou a possibilidade de reter recursos federais destinados a Nova York, caso o candidato social-democrata ganhe. “Isso é uma guerra de classes. Trump está trazendo uma guerra econômica para Nova York”, diz Diana.
Mas, segundo ela, a equipe de Mamdani e seus aliados na legislatura estadual avaliam medidas de proteção financeira para o estado: “Nova York pode decidir não enviar nossos impostos estaduais ao governo federal se ele nos ameaçar.” Ainda assim, ela afirma confiar na capacidade do novo prefeito de manter o compromisso com as populações historicamente excluídas das decisões públicas.
“É muito raro conhecer alguém que chega a esse nível de poder e popularidade e permanece comprometido com as pessoas esquecidas pelo sistema. Eu sei que ele vai continuar do lado delas”, diz Moreno, que trabalhou como voluntária na campanha de Mamdani ao lado de outras 95 mil pessoas que foram de porta em porta para tentar convencer os nova-iorquinos de que ele é a melhor opção para a cidade.
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