"Da Eco-92 à COP30”: geógrafo faz expedição de bicicleta para promover educação ambiental
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Serão mais ou menos 3.500 quilômetros pedalados, do Rio de Janeiro até Belém, entre biomas e intempéries, com paradas no caminho para explicar a crianças e adolescentes o que é a mudança do clima, como ela afeta o dia a dia das comunidades e por que a COP30, em novembro, é importante. A ideia da expedição do geógrafo carioca Leandro Costa surgiu durante a pandemia, quando ouviu falar pela primeira vez de ciclistas ativistas mundo afora, que pedalavam em torno das várias edições da Convenção do Clima.

Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro
Para Leandro Costa, o trajeto era evidente: saía do berço da Eco-92, que assistiu quando era adolescente, primeira de todas as COPs, até a sua versão amazônica. Da estrada, ele conversou com a RFI quando estava em Paraopeba, em Minas Gerais, já entrando no Cerrado.
"Eu vi que a bicicleta era um grande fomentador de boas histórias. Porque onde você para com a bicicleta, em qualquer classe econômica ou faixa etária, perguntam de onde você está vindo, para onde você está indo. Ela abre portas no sentido de não ter barreiras. Ela destrói todas as barreiras", diz.
Com muita disposição, um punhado de bananas, bananadas, paçocas e muita água, Leandro tem percorrido uma média de 80 quilômetros por dia, o que, a depender das condições do trajeto, dá algo em torno de quatro a seis horas de pedal. Já pegou temporais, testemunhou queimadas e pedalou sob o sol escaldante, trocou pneu e câmaras de ar.
Ele sai cedo, por volta de 6 horas para poder chegar nas localidades perto da hora do almoço. Os encontros acontecem de várias formas. Leandro bate na porta das escolas ou, agora que começa a ser conhecido, é convidado por prefeituras e professores. Ele procura se alimentar bem e foca no descanso. O maior desafio é a cabeça.
"Você fica às vezes quatro, seis, oito horas pedalando sozinho, com sol, com chuva – já peguei muita chuva até o momento. Tem horas que você para e pensa: por que estou fazendo isso. Quando você acorda cedo 4h30, 5h, para sair com o sol nascendo, pensa: por que fui inventar de fazer isso?", confidencia. Em pouco tempo, vem a resposta.
"Depois que você está sentado na bicicleta, vendo esse interior do Brasil maravilhoso, com as paisagens maravilhosas, as pessoas que há nesse interior do Brasil, você vê que tudo vale à pena", garante.
Retorno à faculdade
A aventura começou bem antes da largada, em 2017, quando o então analista de sistemas passou a achar monótono o ambiente de trabalho e resolveu mudar de vida. Aos 42 anos, se encontrou na universidade para cursar Geografia. Essa expedição, aos 50, é a prova de que buscava algo novo.

Essa viagem representa, de acordo com o carioca, um divisor de águas em sua vida. "Eu já venho num processo de transição de carreira, de analista de sistemas para educador ambiental e climático, e queria fazer um coisa que impactasse positivamente a vida das pessoas por onde eu passasse", afirma. Nesse contexto, falar que está saindo o Rio de Janeiro para chegar a Belém do Pará de bicicleta, algo muitas vezes inimaginável para as pessoas, é um sonho realizado, que "pode gerar um sonho para elas também’, destaca.
Pode parecer complicado, mas o que Leandro quer é simples. "Que as pessoas possam ter um pouco de entendimento sobre a sustentabilidade, os objetivos de desenvolvimento sustentável – os ODSs de que a gente tanto fala", diz. Ele leva seu conhecimento para territórios remotos, para ajudar os moradores a entender a necessidade de adotar práticas sustentáveis.
"As pessoas não têm um mínimo entendimento para saber que um alagamento na rua delas, por causa de um evento climático extremo, está sendo negociado na COP”, afirma.
O objetivo da expedição é estimular uma análise crítica e promover mudanças de comportamento e estilo de vida em populações que podem aprender a reduzir os impactos ambientais.
Leandro levou um ano e meio para conseguir os patrocínios que o levarão ao centro das discussões climáticas em novembro. Ele contou com o aceno imediato do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha em Petrópolis, cidade onde foi criado, e, depois de centenas de contatos, das Embaixadas da Bélgica e da Holanda. O ativista ainda foi aceito pelo movimento COP30 Bike and Ride, dos ciclistas que saíram do Azerbaijão, onde aconteceu a COP anterior, e vão fazendo trechos de 100 quilômetros até chegar a Belém.
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