"Tinnitus", longa de Gregório Graziozi, representa o Brasil em mostra competitiva do Festival de Biarritz
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Tinnitus é uma palavra que deriva do latim e significa zumbido. Esse é o título do longa-metragem do cineasta Gregório Graziozi, o único brasileiro que participa da mostra competitiva de ficção do Festival de Cinema Latino-Americano, que acontece no balneário de Biarritz, no sudoeste da França. O diretor, que também tem um curta-metragem em exibição, falou à RFI sobre o filme e o momento vivido pelo cinema brasileiro, grande homenageado desta edição.

Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
Tinnitus também é o nome de uma doença da qual sofre Mariana, a personagem principal da trama. A esportista participa de competições de salto ornamental, até que passa a sofrer de um súbito zumbido nos ouvidos, que pode afundar a sua carreira. O roteiro foi escrito na França, quando Graziozi participava de uma residência artística na Cinéfondation do festival de cinema de Cannes.
“A protagonista do filme, interpretada pela atriz Joana de Verona, é uma atleta de salto ornamental. Ela pula de plataformas de 10 metros de altura e você imagina, para quem está numa distância tão longe da água, qualquer elemento que possa tirar a sua concentração é perturbador”, observa Graziozi. “Essa personagem está passando por um processo de perda auditiva que se manifesta como alucinação sonora”, explica o diretor.
O drama, recheado de muita ação ao mostrar as competições de mergulho e a rivalidade entre os atletas, também abre espaço para uma investigação mais profunda sobre a condição humana. A primeira crise acontece quando Mariana está no alto da plataforma, de onde despenca. Diante da doença, ela decide recomeçar a vida trabalhando como sereia em um aquário municipal, onde se apresenta para os visitantes como uma atração exótica.

Sereia em Paris
Foi no aquário de Paris que Gregório encontrou a tal “sereia” que inspirou a personagem do filme. “Ela tenta trocar o risco que é saltar de uma plataforma por uma vida um pouco mais pacata”, diz o cineasta, que filmou as cenas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ele conta que por causa da pandemia de Covid-19, o filme demorou mais tempo para ficar pronto, mas também foi finalizado com mais cuidado.
“O filme parece um triller mas ele é um filme de esporte disfarçado, pois trata de como a Marina vai lidar com o próprio corpo a partir do momento que ela enfrenta essa doença”, resume. “Estou muito orgulhoso de estar exibindo ele na França, pela primeira vez em Biarritz”, completa.
Tinnitus entra em cartaz na França em março do ano que vem. O elenco tem ainda André Guerreiro Lopes, Indira Nascimento e Thaia Perez. “Estou feliz de participar do festival com o Tinnitus, em competição, e também com um curta-metragem no programa de carta branca do cineasta Kléber Mendonça Filho”, comemora Graziozi, citando a sua participação na mostra Focus Brésil, uma programação paralela composta por filmes clássicos ou menos conhecidos, selecionados pelo cineasta Kléber Mendonça, convidado do festival.
“Eu fiz faculdade de cinema, a minha família não vem da área. E o primeiro realizador que eu conheci, quando estava na faculdade, foi o Kléber”, lembra Graziozi. “E ele sempre foi muito generoso com a geração mais nova”, agradece.
Cinema nacional
Gregório Graziozi ainda fala dos desafios de fazer cinema no Brasil. “As dificuldades são muitas. No Brasil, o cinema é apoiado pelo Estado e o atual governo acredita que os artistas e cineastas são inimigos do país. Então, os benefícios e subsídios foram exterminados. Essa é uma entressafra do cinema brasileiro”, acredita.
Godard
O diretor se diz um apaixonado pelo cinema francês. E cita como fonte de inspiração o franco-suíço Jean-Luc Godard, um dos nomes da Nouvelle Vague, que morreu no dia 13 de setembro, aos 91 anos. “É impossível pensar cinema sem pensar no cinema francês. O Godard foi um dos grandes expoentes e os filmes dele são simplesmente inesquecíveis. O meu favorito é ‘Desprezo’ com Michel Piccoli e Brigitte Bardot. Só de ouvir a trilha sonora eu fico emocionado”, finaliza.
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