Coalizão entre bloco conservador e partido de Scholz deve governar Alemanha, prevê especialista
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Os alemães vão às urnas neste domingo (23), para eleições antecipadas em um cenário marcado pela consolidação da extrema direita como segunda força política do país. Pesquisas mostram o bloco conservador, liderado pelos cristãos-democratas (CDU/CSU) de Friedrich Merz, na frente com cerca de 30% dos votos, seguido pelo partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), de Alice Weidel.
O chanceler Olaf Scholz, da coalização liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD), busca se manter à frente do governo, apesar do terceiro lugar nas intenções de voto.
O quadro eleitoral já está bem definido, com pouca probabilidade de alterações significativas nas preferências do eleitorado, segundo o sociólogo Sérgio Costa, professor da Universidade Livre de Berlim. "O partido Democrata Cristão, que é um partido hoje mais conservador do que quando era dirigido por Angela Merkel, deverá liderar, seguido pela AfD com cerca de 20% dos votos", explica na entrevista à RFI.
A novidade destas eleições, segundo Costa, seria a volta ao Parlamento do partido Die Linke, (A Esquerda), que foi reconstituído e tem 7% das intenções de voto, superando assim a cláusula de barreira de 5% que permite uma legenda ter representantes no legislativo.
Motivos da ascensão da extrema direita
A ascensão da extrema direita no país, motivo de muitas preocupações para os vizinhos europeus, é resultado de múltiplos fatores, segundo o especialista. "A AfD foi muito eficaz em captar insatisfações de diversas naturezas da população", analisa Costa, citando desde o descontentamento de homens conservadores com as conquistas de gênero das últimas duas décadas até as frustrações econômicas na antiga Alemanha Oriental, que perdeu competitividade desde a Reunificação da Alemanha, em 1991.
“Alguns centros industriais que eram importantes da Alemanha Oriental perderam o seu lugar, o seu protagonismo, a sua importância, na medida em que na Alemanha unificada, essas cidades não tiveram mais condição de concorrer com a indústria muito mais avançada da Alemanha ocidental. Isso é claramente um fator que explica o comportamento de eleitores nessas regiões”, explica Sérgio Costa.
Segundo o sociólogo, a AfD foi muito eficiente ao canalizar as insatisfações e justificá-las pela presença crescente de estrangeiros no país. A questão de imigração foi um dos principais temas da campanha eleitoral, ocorrida em meio a um aumento de casos de violência e ataques, como o do carro lançado por um requerente de asilo afegão contra uma multidão que manifestava em Munique, onde acontecia a Conferência Internacional sobre Segurança.
“Insatisfações difusas foram de alguma maneira canalizadas, catalizadas por esse apelo xenófobo dizendo que a culpa era dos estrangeiros e algo que funcionou super bem. E, infelizmente, a Alemanha hoje é uma sociedade muito mais xenófoba do que era há 20 anos”, afirma.
Interferências de Musk e do vice-presidente americano
O partido de extrema direita também contou com apoio explícito do empresário Elon Musk e do vice-presidente americano, J.D. Vance, que em discurso em Munique, pediu votos para a legenda liderada por Alice Weidel. A interferência externa, na análise do especialista, pode ter o efeito inverso nos eleitores, particularmente os indecisos.
“Essa interferência na eleição alemã é vista de maneira muito crítica pela maior parte da sociedade, ou seja, os votantes da AfD convictos veem nesse apoio, uma confirmação de suas preferências. Mas para aqueles que possivelmente estão em dúvida, esse tipo de apoio acaba funcionando de maneira inversa. Ou seja, ele desencoraja as pessoas a votarem na AfD, na medida em que esse voto é, de alguma maneira, estimulado, sustentado e apoiado por forças de fora da Alemanha. Então isso gera, na verdade, uma desconfiança em eleitores que estão nesse momento ainda em dúvidas sobre em quem votar”, garante.
O sociólogo esclarece que o eleitor da extrema direita sabe que vota em um partido que será oposição, pois que nenhuma legenda cogita se aliar com a AfD para poder governar.
Quanto à formação do próximo governo, Sérgio Costa aponta que a alternativa provável é uma "grande coalizão" entre o bloco conservador liderado pela CDU e o SPD. "A CDU tem 30% de preferências e o SPD tem 15%, chegaríamos a 45% do conjunto de votos válidos", calcula.
Uma segunda possibilidade, embora menos provável, seria uma coalizão entre os democratas cristãos e o Partido Verde, que aparece em quarto lugar, captando cerca de 14% do eleitorado, segundo as sondagens. “Temos essas duas possibilidades, mas a chamada ‘grande coalizão’, ou seja, do partido social-democrata com o bloco liderado pelos democratas cristãos, é a que deve governar Alemanha nos próximos anos”, prevê.
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