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O Brasil e a ONU aos 80 anos: entre a esperança ambiental e a crise multilateral que trava o mundo

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A ONU está completando 80 anos, em meio a uma grave crise estrutural e financeira, entre guerras na Ucrânia, na Faixa de Gaza, no Sudão e outras partes do mundo. A participação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), sua busca por maior influência, seu papel crucial nas pautas ambientais, os desafios que a organização enfrenta e a importância contínua da ONU no cenário global são temas centrais abordados pela historiadora Carolina Aguiar, professora no Instituto de Relações Exteriores da USP.

Vista aérea do rio Amazonas, no estado do Amazonas, em 12 de dezembro de 2013.
Vista aérea do rio Amazonas, no estado do Amazonas, em 12 de dezembro de 2013. AFP - CHRISTOPHE SIMON
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Patrícia Moribe, de Paris

“A ONU foi criada no final da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de manter a paz e evitar conflitos de dimensões globais, tendo sido bem-sucedida em prevenir uma guerra direta entre as grandes potências”, explica a especialista. O Brasil se destaca como um dos 51 membros fundadores da ONU em 1945, evidenciando seu compromisso com a organização desde o princípio. “Desde 1947, o país tem a distinção de ser o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU, um fato simbólico que lhe confere uma certa voz na organização".

Apesar de sua atuação e projeção, o Brasil tem uma "histórica reivindicação" por uma participação mais ativa no Conselho de Segurança da ONU, composto por cinco membros fixos (China, Reino Unido, Estados Unidos, Rússia e França), que detêm o direito de veto, além de membros rotativos. No entanto, a modificação da Carta da ONU para ampliar o número de nações com assento no Conselho é um processo "bastante burocrático e improvável", exigindo a aprovação de dois terços dos votos dos países-membros e a concordância do próprio Conselho de Segurança, um cenário que parece "muito improvável", para a historiadora.

Aguiar levanta dúvidas sobre a eficácia de uma ampliação do Conselho no formato atual, citando a situação na Palestina como um exemplo claro da paralisia causada pelo veto de países aliados, especialmente os Estados Unidos, que são parceiros históricos de Israel, e que têm agido como um "grande entrave" para qualquer ação mais efetiva da ONU em certos contextos.

Os vetos cruzados no Conselho de Segurança impedem ações eficazes em crises como as do Oriente Médio e da Ucrânia. A ineficácia da ONU em conflitos, como os de Gaza e em outros locais como Nagorno-Karabakh, Sudão ou Níger, tem gerado desconfiança e questionamentos sobre sua relevância.

Brasil no protagonismo ambiental

Em um dos pilares mais urgentes da agenda global, o Brasil é reconhecido como um "país-chave" para as questões climáticas e o desenvolvimento sustentável, devido principalmente à vasta porção da Amazônia em seu território, explica a historiadora. A relevância do país é demonstrada por receber conferências da ONU, como a Rio 92, e pela preparação para sediar a COP 30, o que indica que o Brasil é visto como essencial para "atingir os objetivos climáticos e relacionados a um desenvolvimento sustentável".

Carolina Aguiar observa uma "certa descrença no papel da ONU", que ela associa a uma crise generalizada de organismos multilaterais e à ascensão da extrema direita. Existe uma preocupação real com a potencial saída dos Estados Unidos – que historicamente é o maior financiador da organização – de instâncias da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e de acordos como o de Paris.

Apesar deste panorama desafiador, Aguiar ressalta a importância de ainda "reivindicar esse espaço da ONU", que permanece um "lugar de encontro, de diálogo e um lugar de desenvolvimento de programas fundamentais". Ela menciona o papel crucial da OMS na pandemia de Covid-19 e a necessidade contínua de abordar guerras, potenciais novas pandemias e as drásticas mudanças climáticas.

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